Inteligência Artificial e Telefones: Grandes Problemas de Confiança

Análise Detalhada dos Smartphones AI Plus: O Que Está Por Trás do Buzz?

Dois novos smartphones têm gerado bastante burburinho nas redes sociais. Enquanto as avaliações em plataformas de e-commerce parecem razoáveis para uma empresa iniciante, há muita discussão no Twitter sobre questões de fabricação, privacidade de dados, a origem ODM (Original Design Manufacturer) chinesa e, claro, a campanha de marketing anti-China da própria marca.

Em resposta a essa controvérsia, foram encomendados esses aparelhos. Após uma pesquisa e investigação aprofundada, temos descobertas muito interessantes para compartilhar neste artigo.

Unboxing e Primeiras Impressões

Os modelos em questão são o AI Plus Pulse e o AI Plus Nova. Ambos são posicionados como telefones de entrada (budget phones). As caixas confirmam que são fabricados na Índia.

A empresa responsável pela fabricação desses telefones também monta aparelhos para outras marcas conhecidas, como Carbon e Gio. O nome dessa fabricante é United Teleinks.

Ao abrir a caixa, encontramos todos os acessórios necessários: carregador, case e o próprio telefone. No entanto, uma observação inicial negativa foi o protetor de tela pré-aplicado, que apresentava bolhas, algo inesperado em um aparelho novo.

A Questão da Fabricação Local

Verificamos a origem do carregador e, de fato, ele também é fabricado na Índia. O carregador é fornecido pela empresa HGD India, que fabrica carregadores para marcas como Lava, Intex, Microax, Carbon e outras.

Ao ligar os aparelhos e iniciar o processo de configuração, a experiência foi surpreendentemente fluida. Não houve práticas questionáveis, solicitações de permissões desnecessárias ou a presença de anúncios. A interface de usuário (UI) é visualmente colorida, mas demonstrou ser bastante responsiva, especialmente considerando que se trata de um telefone de baixo custo.

Os Aplicativos Pré-instalados e a Contradição

O problema surgiu com a presença de três aplicativos pré-instalados que parecem desnecessários, e o pior: eles não podem ser desinstalados.

Os aplicativos em questão são:

* Clean Assistant
* Mobile Butler
* Phone Clone

O Clean Assistant é uma versão rebatizada de um aplicativo chinês similar, pertencente à empresa Two Mobile. Os outros dois aplicativos são fornecidos por outra companhia chinesa, a Strocom.

Ao descobrir isso, a reação imediata foi de questionamento: como uma empresa que promove a segurança de dados e afirma não enviar informações para a China pode incluir *bloatware* chinês em seus dispositivos?

Análise da Política de Privacidade

Para investigar a fundo, consultamos a política de privacidade da marca. Nela, encontramos uma declaração crucial: embora a Mobile Cloner (responsável pelo Phone Clone) possa armazenar informações pessoais na Índia, Irlanda, os dados coletados de usuários na Índia são armazenados exclusivamente na Índia.

Para confirmar, verificamos a política de privacidade do aplicativo Mobile Cloner da Crunch Holdings, e eles apresentam a mesma cláusula.

Isso nos leva a entender o conceito de aplicativos ODM (Original Design Manufacturer). Existem empresas na China que desenvolvem softwares prontos, e os OEMs (fabricantes de equipamentos originais) podem simplesmente comprá-los e implementá-los em seus aparelhos. Embora não seja uma prática incorreta em si, é irônico que uma empresa que busca reduzir a dependência da China para hardware continue dependendo de software chinês. Poderíamos esperar que eles desenvolvessem seus próprios aplicativos, algo plenamente viável no país.

Design da Interface e Outros Componentes

Analisando a aparência e a sensação da UI, percebe-se falta de originalidade. A tela de configurações remete ao Color OS, a página de RAM Virtual é idêntica à do Infinix, e o aplicativo de câmera é bastante genérico.

Mesmo o recurso de IA apresenta um atalho para o DeepSync, que é, novamente, uma empresa chinesa de IA.

Ao desmontar o aparelho para checar a bateria, tivemos uma boa surpresa: a bateria é feita na Índia. No entanto, durante o processo de inspeção interna, um acidente ocorreu: a bateria foi perfurada, resultando em fumaça intensa. É fundamental nunca realizar esse procedimento em casa.

Confiabilidade e Questões Pessoais do Fundador

Após uma análise completa, interna e externa, é justo dizer que, objetivamente, não há “bandeiras vermelhas” imediatas no produto em si. Existem falhas, sim, que esperamos que sejam corrigidas nos próximos lançamentos.

Contudo, existe um grande problema de confiança na marca AI Plus. Este problema não está tanto no hardware, mas sim no histórico do seu fundador.

A marca foi estabelecida pelo Sr. Madhav, que foi responsável por montar a operação chinesa da Realme na Índia. Após deixar a Realme em 2023, ele ingressou na Honor, outra empresa chinesa, mas saiu logo depois. E agora ele está construindo a AI Plus.

O ponto de desconfiança reside no fato de que, após deixar a Honor India — onde era um dos diretores —, ele não forneceu qualquer declaração sobre o futuro da operação na Índia ou dos consumidores que apoiaram a marca. Ele simplesmente desapareceu, deixando dúvidas sobre o suporte futuro para quem comprou aqueles dispositivos, incluindo a assistência técnica e a garantia.

Será que ele se importa com os consumidores? A dúvida aumenta, visto que ele chegou a desativar as respostas em seu perfil no Twitter e, pior, retweetou uma publicação sobre o declínio da Realme na Índia. Retweetar uma notícia negativa sobre uma empresa que ele ajudou a construir parece desnecessário e levanta questionamentos sobre suas verdadeiras intenções, especialmente quando se tenta capitalizar em um discurso anti-China.

Discursos focados em “Índia versus China” são datados; o que realmente importa hoje é a qualidade do produto e o cuidado com os clientes, além da longevidade da marca no mercado. Para que uma empresa prospere, é preciso mais do que mero patriotismo; é necessário confiança. A confiança permite que os usuários recomendem o produto com segurança.

Para construir essa confiança, a empresa precisa focar em uma única coisa: solidificar a confiança do consumidor.